A TEORIA DOS CHAKRAS

Tudo É Energia!

Na visão do Yoga, o Homem é um reflexo do macrocosmos.

A energia criadora que sustenta e mantém o Universo manifesta-se no Homem, não estado separado ou diferente dela.

A essa energia criadora dá-se no nome de Kuṅdālinī, uma corrente eléctrica centrada na base da coluna.

Kuṅdālinī

A visão tântrica do Yoga mostra que Homem pode atingir um estado de crescimento, elevação e transcendência e, considera  que existem corpos e estados de consciência associados a cada dimensão do Ser.

Durante o processo de crescimento espiritual, o percurso através das diferentes dimensões aumenta a consciência, percepção e entendimento, proporcionando a libertação de condicionamentos e demais limitações.

Especificamente, os corpos e estados de consciência são:

  • Corpo Físico, e a consciência que opera na dimensão do mundo tangível
  • Corpo Astral (subtil), e a consciência da vivência de sensações e emoções
  • Corpo Causal, e a consciência da expressão de inteligência e sabedoria

Chakras e Nāḍīs: a estrutura do corpo subtil

Nāḍīs e Chakras

śataṁ caikā ca hṛdayasya nāḍyastāsāṁ mūrdhānamabhiniḥsṛtaikā | tayordhvamāyannamṛtatvameti viṣvaṅṅanyā utkramaṇe bhavanti || 16 ||

Dos condicionamentos para a Liberdade.

“A partir do coração, surgem os cento e um caminhos (nāḍīs) da força vital. Um deles conduz ao topo da cabeça. Esse caminho conduz à imortalidade. Os outros, à morte”. || 16 ||

Katha Upanishad III:16

अङ्गुष्ठमात्रः पुरुषोऽन्तरात्मा सदा जनानां हृदये संिनिवष्टः । तं स्वाच्छरीरात्प्रवृहेन्मुञ्जािदवेषीकां धैयेर्ण ।
तं िवद्याच्छु क्रममृतं तं िवद्याच्छु क्रममृतिमित ॥ १७ ॥

Os sistemas corpo – mente actuam em diferentes dimensões, onde cada dimensão é mantida por uma fonte de energia vital necessária e apropriada. São parte de um todo orgânico, tendo em si centros de energia que gerem o fluxo de prana e um sistema de canais energéticos.

A esses canais dá-se o nome de Nāḍīs e, aos centros energéticos, Chakras.

Nāḍīs

A energia que sustenta o Universo (śakti) é a energia que sustenta o nosso corpo. E, a aparente dualidade presente no Universo, manifesta-se igualmente no corpo físico, subtil e causal.

Dentro da visão tântrica, o corpo é um microcosmos e a energia vital circula através formações energéticas na forma de canais – nāḍīs.

Centros e Canais Energéticos

Diz-se que existem 72 000 nāḍīs (Hatha Yoga Pradipika) em todo o corpo e todas elas dependem da força vital estando, por isso, conectadas à respiração.

No estudo e prática de Yoga são mencionadas as três principais: Suṣumnā, Iḍā e Piṅgalā.

Suṣumnā nāḍī, é talvez o mais importante dos canais de energia. O nome significa “a graciosa” e segue o alinhamento de Merudanda (Meru: a montanha que é o eixo do mundo pela mitologia Hindu), o eixo da coluna vertebral (cerebro-espinhal) que flui da extremidade inferior da mesma até chegar a extremidade da cabeça (coroa-craniana). Suṣumnā nāḍī é descrita como um canal energético que está associado ao Ser e transpõe os três estados de consciência.

Iḍā nāḍī representa o princípio feminino, fria e húmida. Tranquiliza para baixo e tem como qualidades a introversão e a serenidade. Pálida, é também chamada de śaśī (lua). É associada ao rio Ganges. Representa a corrente lunar e corresponde ao hemisfério direito do cérebro.

Piṅgalā nāḍī é o princípio masculino, quente e seco. Aquecendo-se para acima, tem como qualidades a extroversão e a energização. É a nāḍī solar, e corresponde ao hemisfério esquerdo do cérebro. Recebe também o nome de mihira (sol). É associada ao rio Yamunā.

Como espelho do microcosmos, iḍā e piṅgalā são responsáveis pelos ciclos de sono e despertar (Lua e Sol)

A origem de ambas é no kanda mūla, que é a raiz de todas as nādis (localizado na região pélvica) onde se encontra a fonte de energia potencial no nosso corpo, Śakti. E que se manifesta de diferentes formas dependendo do seu centro de energia subtil. Kuṅdālinī é força energética que mantém todos os seres do mundo pela inspiração e expiração.

 Um dos objetivos da prática de Yoga reside no equilibrar dessas dois canais, para que o indivíduo entre num estado de centro, que se expressa através de clareza mental, harmonia, lucidez e percepção da unidade da vida.

Do kanda mūla, iḍā e piṅgalā alternam da direita para a esquerda e da esquerda para a direita, serpenteado em torno de suṣumnā nāḍī. E é nos pontos em que esses canais se intersectam que surgem os Chakras.

Chakras
Os 7 Chakras

Ao longo do nosso eixo, no canal que percorre a distância entre a base da coluna e o topo da cabeça estão localizados sete centros de energia. São sete centros de informação complexa. São sete chakras.

Na sua tradução, Chakra significa roda, disco ou círculo mas recebem também o nome de padma, lótus.

Os Chakras interconectam-se entre o corpo físico e o corpo astral e, entre o corpo astral e o corpo causal.

São centros de armazenamento, transferência e conversão de prána entre as diferentes dimensões do Ser, bem como facilitadores de energia entre o corpo e o estado mental associado. Actuam como degraus que unem uma dimensão terrena a uma dimensão espiritual.

Chakras

De aparência circular e brilhante que se encontram em constante rotação, os chakras distribuem-se ao longo de um canal energético

O elemento (Pancha Maha Bhoota) que corresponde a cada chakra determina a sua cor e frequência.

Cada um está associado com um bīja mantra, isto é, um som semente, manifestações sonoras do tipo de energia de cada chakra.

Representam-se com um número definido de pétalas, sobre as quais aparecem inscritos fonemas do alfabeto sânscrito, que estimulam energeticamente cada pétala do lótus. Este é o motivo pelo qual o sânscrito é considerado uma língua sagrada, pois o seu potencial vibratório produz efeitos em todos os níveis.

A soma das pétalas dos seis primeiros chakras corresponde às 50 letras do alfabeto sânscrito, chamadas mātrikās que são as matrizes subtis de todos os sons.

O alfabeto sânscrito, varṇamālā, significa “grinalda de letras” sugerindo o mais elevado propósito dado à linguagem humana: honrar e expressar apropriadamente a realidade transcendental.

A cada chakra está associada uma divindade e uma força criadora, śakti, com diferentes nomes, atributos e propósitos.

O corpo actua como um receptor de prāṇa, captando a energia do ambiente através dos Chakras. Os centros energéticos estão, assim, carregados de informação que vibram consoante o saṁskāra de cada um.

Saṁskāra define-se como o conjunto de tendências subconscientes (de carácter inato e hereditário), a principal causa dos condicionamentos humanos, sendo traduzido por “carimbo psíquico”.

Vāsanās são as tendências comportamentais, as impressões kármicas, os desejos que funcionam como força motriz dos pensamentos e ações do indivíduo.

 Vṛttis  vórtices de actividade consciente que actuam segundo o saṁskāra de cada individuo e accionam o sistema endócrino.

Actuar sobre estes centros energéticos envolve criar movimentação desde a base até ao crânio e, ao serem activados e despertos, abre-se a consciência para estados mais elevados de existência, suportando  e oferecendo vitalidade a todas as dimensões, estabelecendo também conexões a emoções e temas de vida.

Segundo a filosofia tantrica, o percurso para estado mais elevados de consciência pode ser pensado como uma analogia à trajectória de vida de cada um, na sua busca pessoal.

De acordo com o Vedanta (tradição espiritual da filosofia Hindu que se ocupa do conhecimento) quatro os propósitos do Homem:

  • Artha – segurança
  • Kama – prazer
  • Dharma – retidão de propósito
  • Moksha – a libertação das actividades mundanas

Toda esta visão é uma preparação para o estudo individual do Sete Chakras.

Mūlādhāra Chakra: a raíz e a segurança

Mūlādhāra Chakra Yantra

Mūlādhāra (मूलाधार) significa “raíz” ou “base da existência” e, segundo a tradição Tântrica do Yoga, o primeiro Chakra recebe o nome de Mūlādhāra Chakra, ou Chakra da Raíz, a base da segurança.

Representa a força do elemento Terra no nosso corpo subtil de onde podemos absorver ou enraizar a nossa força.

O seu princípio básico é realizar o movimento fÍsico aqui e agora, uma relação primitiva com a luta ou a fuga para a sobrevivência. E quando activado a sua cor é vermelha, o vermelho do núcleo do Planeta.

A primeira ocupação do Homem é com a sua segurança. Todas as nossas acções básicas têm como propósito trazer a preservação da vida.

O primeiro chakra, mūlādhāra, é responsável pelo instinto de sobrevivência, pelo apego às coisas materiais e pelo medo. Ou seja, podemos entender o primeiro chakra e os “bloqueios” com ele relacionados como a nossa busca natural por segurança.

No caminho em direcção à liberdade é necessário ter uma observação e acção atenta às emoções e sentimentos relacionados com o chakra da raíz.

mūlādhāra chakra yantra

Mūlādhāra Chakra localiza-se na base da coluna, plexo coccígeo e contém todas as sementes dos nossos desejos, sendo onde se encontra a nossa força vital inesgotável, Kundalini , o ponto central e o canal do sistema circulatório de energias subtis.

O chakra da raíz distribui o vento vital apāna. Está associado às glândulas supra-renais, que segregam a adrenalina. 

Mūlādhāra significa suporte da raiz. É a base primordial para a harmonização dos chakras superiores como um corpo único.

Controla o fator sólido, elemento terra e força estática e, tudo o que diz respeito à sobrevivência, real ou imaginária, diz respeito a este chakra.

O lótus associado ao chakra da raíz aparece circundado por quatro pétalas vermelhas. Cada pétala tem uma das seguintes sílabas que representam as quatro vrittis:

  • वं vaṃ – alegria suprema – Dharma, desejo psico-espiritual
  • शं śaṃ – prazer natural – Artha, desejo psíquico
  • षं ṣaṃ – satisfação no controlo das paixões – Kama, desejo físico
  • सं saṃ – felicidade na concentração – Moksha, desejo pela libertação espiritual

Inscrito nesse círculo de pétalas, um quadrado de cor amarela, que representa o elemento terra (pṛthivī). Dentro dele, um triângulo avermelhado invertido, símbolo da yoṇī, órgão sexual feminino, princípio da fertilidade.

No triângulo aparece o lingam, fundamento criador masculino, que brilha como um diamante. Em forma de serpente, enroscada três vezes e meia em torno do liṅgam, jaz adormecida kuṇḍalinī, a energia latente. Não é, então, por mero acaso que esta região seja designada de sacra.

Indra, o Deus do Céu é associado a mūlādhāra. Apresenta-se de cor amarela, com quatro braços e segura um raio (vajra) e um lótus azul. A montada de Indra é um elefante branco (Airavata) que tem sete presas, representando os sete elementos necessários para suportar a vida. 

bīja mantra, som que ativa esse centro, é Lam.

Um indivíduo que viva sob a predominância deste cakra tenderá a ser céptico e pragmático. As latências mentais associadas ao cakra são: ilusão, cólera, avareza, desejo, sensualidade, territorialidade, instinto de sobrevivência, possessividade, temor e preocupação excessiva com o próprio corpo.

EQUILÍBRIOS E DESEQUILÍBRIOS DESTE CHAKRA

Desequilíbrio

  • desconexão com o corpo
  • medo
  • ansiedade
  • inquietude
  • incapacidade de avançar
  • insegurança
  • falta de sentido de perteça / enraizamento
  • inércia
  • possessividade

Equilíbrio

  • saúde
  • vitalidade
  • pertença
  • segurança
  • estabilidade
  • quietude
  • solidez
  • capacidade de transcender limites
AFIRMAÇÕES PARA ACTIVAÇÃO DE Mūlādhāra Chakra

“eu estou a salvo e em segurança”

“eu estou enraizado”

“não tenho medo”

“eu tenho abundância”

“eu estou financeiramente seguro”

“eu sou merecedor de amor”

“eu mereço ser bem sucedido”

“eu sou confiante”

etc

Meditar sobre este ponto energético é nutrir as nossas raízes, reconhecer a nossa base e as nossas origens, e na origem de nós mesmos.

“Tudo o que vemos tem as suas raízes no mundo não visto. As forças mudam, mas a essência permanece a mesma.”

– Rumi –